Site de divulgação e reflexões sobre Psicologia e Psicoterapia

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“Homem velho em Sorrow”/ Vincent Van Gogh – Óleo – 32 x 25 cm

Um belo dia as coisas mudam, se embaralham e se reconfiguram; perdemos a breve familiaridade que temos com as coisas e ficamos diante de novos cenários que exigem de nós a busca de novos sentidos, novos hábitos.

O novo: como desconforto, descompasso e principalmente como abertura às possibilidades.

Nestes momentos lembramos que nada é permanente e que o cuidado deve ser lembrado, praticado e escolhido todos os dias.

Sensação como esta é comum em pessoas que recebem o diagnóstico de doenças crônicas.

Aqui se entende doença crônica como uma condição de saúde que persiste no decorrer do tempo, de desenvolvimento gradual, podendo não ter uma cura definitiva, exigindo gerenciamento contínuo.

Em vez de cura o tratamento foca em controlar e retardar a progressão da doença e prevenir complicações, podendo envolver não só o uso de medicamentos, mas também mudanças no estilo de vida e monitoramento médico regular.

Na maioria das vezes somos surpreendidos sem aviso prévio ou sem sinais anteriores que pudessem indicar que algo estava acontecendo.

De repente desenrola existencialmente uma condição crônica, que exige cuidado e monitoramento e que trará algumas restrições e alterará o mundo presumido da pessoa.

Inevitavelmente emoções contraditórias se manifestam: o futuro se torna um possível estranho, pensar sobre a própria finitude é algo que invade a nova rotina, a busca por novos sentidos faz com que outras coisas percam o sentido, e no meio deste redemoinho de mudanças, a tristeza e uma possível falta de perspectiva pode assombrar este processo de mudança, levando o sujeito a entender de forma pouco funcional esta nova condição como uma sentença.

O impacto sobre a saúde mental se faz presente como resultado de um corpo que se vê em uma condição existencial fragilizada tendo muitas vezes que vivenciar experiências constantes de dores crônicas, limitações físicas, mudanças de rotina. E junto com isso, o sofrimento físico pode se manifestar também como experiências de estresses, ansiedades e humor deprimido que acabam prejudicando a qualidade de vida da pessoa, assim como, a adesão aos tratamentos propostos.

Condições existenciais como estas vão exigir cuidado e monitoramento constante, assim como, uma certa abertura para acolher o luto de um estilo de vida anterior, acolhendo a dor, mas também abrindo espaço para o cuidado através da adesão aos tratamentos.

Toda condição de doença crônica exige um olhar multiprofissional e multidisciplinar, e neste âmbito entra a experiência da Psicoterapia.

Nestas condições a Psicoterapia se dá como um espaço de suporte emocional, capaz de dar sustentação à dor e ao sofrimento do paciente.

Através da escuta ativa, amorosa, acolhedora e qualificada, o Psicólogo pode ajudar o paciente a pensar esta condição para que se torne ativo na sua relação com seu sofrimento e tratamento, promovendo resiliência, flexibilização e capacidade de adaptação favorecendo o engajamento com os tratamentos propostos tendo o trabalho de Psicoeducação como ferramenta de compreensão dos aspectos inerentes à condição crônica.

Por último, o trabalho Psicoterapêutico visa a construção da rede de apoio do paciente, com sessões de orientação referente aos cuidados emocionais.

A psicoterapia, neste sentido, como elemento essencial dos cuidados oferecidos aos pacientes que sofrem com doenças crônicas favorecem a adesão ao tratamento médico, pode reduzir os sintomas depressivos e ansiosos, ajuda no desenvolvimento de estratégias de enfrentamento e abre espaço para compreensão desta condição, como ela afeta o paciente e seu entorno e o que se abre através dela como limitação e possibilidade.

Raphael do Lago Júdice

Psicólogo/ Psicoterapeuta Existencialista

CRP: 06/161496